Um caso de estudo: Prevenção de hipocalcemia em vacas de leite

 

Durante o período do parto, as vacas leiteiras sofrem uma extrema e repentina necessidade de cálcio devido ao início da lactação. Essa súbita necessidade de cálcio leva a que os mecanismos de regulação das vacas estejam sob grande pressão uma vez que tentam manter os níveis de cálcio no sangue dentro dos limites normais (homeostase). Durante o período de transição, as vacas leiteiras podem apresentar níveis baixos de cálcio no sangue sob duas formas: hipocalcemia clínica ou hipocalcemia subclínica.

O limite mínimo para os níveis normais de cálcio no sangue de uma vaca saudável é 1 mmol/L [3]. As vacas que apresentam níveis de cálcio no sangue abaixo desse limite são classificadas como hipocalcémicas e, dependendo da gravidade, poderão desenvolver hipocalcemia clínica (situação mais grave e com apresentação de sinais clínicos) ou hipocalcemia subclínica (situação menos grave e sem apresentação de sinais clínicos). As taxas de incidência de ambas as formas de hipocalcemia variam de Exploração para Exploração e dependem de vários fatores tais como: práticas de maneio (principalmente o das vacas secas), médias de produção de leite, número médio de lactações, etc. Nas Explorações de leite, a taxa de incidência de hipocalcemia clínica pode variar de 5% a 10% e a incidência de hipocalcemia subclínica pode afetar 23% a 50% dos animais das Explorações [2].

As evidências científicas demonstram que as hipocalcemias (clínicas e subclínicas), para além de provocarem quebras de produção de leite, também estão na origem de outros problemas de saúde que as vacas podem apresentar no pós-parto e que contribuem para a diminuição da longevidade dos animais. Esses problemas de saúde incluem distocias, retenções de placenta, deslocamentos de abomaso [6], mastites e cetoses [3,4]. Para além destes problemas, a hipocalcemia também é associada ao comprometimento do sistema imunitário das vacas [5, 7]. Consequentemente, a presença nas Explorações de leite de elevadas taxas de hipocalcemia associadas a problemas de saúde dos animais resultam em avultadas perdas económicas para os Agricultores. Estes factos demonstram a grande necessidade de se implementarem estratégias de prevenção de hipocalcemias que sejam fáceis de aplicar e, mais importante, altamente eficazes.
Atualmente são muitas as estratégias de prevenção (e de tratamento) de hipocalcemias que têm sido implementadas nas Explorações de leite. Exemplo dessas estratégias são a utilização de soluções de cálcio intravenoso (IV) ou subcutâneo (SC) e cálcio oral fornecido na forma de líquido, gel, pasta, drench ou bólus. A administração de cálcio IV e SC são terapias de suporte de curto prazo, que têm o risco de fornecer cálcio em excesso e que podem causar irritação e lesão dos tecidos no local da injeção SC [8]. A administração de cálcio em excesso pode interromper a capacidade interna das vacas de manter a homeostase do cálcio o que pode resultar em recaídas de hipocalcemia. Líquidos, géis, pastas e drenches também têm riscos associados ao tratamento. Líquidos e drenches apresentam ainda o risco de pneumonia por aspiração e consequente morte se o produto não for administrado com cuidado. Géis e pastas são também frequentemente rejeitados pela vaca, resultando em erros de dosagem [1, 4].

A maior parte dos produtos de suplementação de cálcio oral sob a forma de bólus recomenda uma primeira administração após o parto e uma segunda dose adicional administrada 12 horas depois. Apesar dos bólus de cálcio reduzirem o risco de pneumonia por aspiração e de rejeição por parte da vaca, estes requerem várias administrações. Como geralmente é difícil administrar a segunda dose devido às práticas de maneio das Explorações, muitas vacas apenas recebem uma dose de bólus de cálcio, o que se traduz numa insuficiente dosagem de cálcio no período do pós-parto o que, consequentemente, resulta em custos para as Explorações quer por quebras na produção de leite quer pelo surgimento de outras doenças.

A GENEX desenvolveu um novo bólus de suplementação de cálcio chamado RumiLife® CAL24™ que só requer uma única aplicação. O RumiLife® CAL24™ é uma combinação única de ingredientes que inclui Calmin® e que permite a manutenção de níveis ideais de cálcio no sangue durante as primeiras 24 horas após a sua administração no pós-parto. Calmin® é uma fonte de cálcio e de magnésio derivados de algas marinhas que permite às vacas de leite manter os níveis de cálcio e de magnésio no sangue dentro de valores normais. O RumiLife® CAL24™ é um produto de uma administração única (1 dose corresponde a 2 bólus) imediatamente após o parto.

 

Caso de estudo

O caso de estudo desenvolvido por Arver TJ. & Silberhorn TJ (2017) teve por objetivo avaliar o potencial de prevenção de hipocalcemia do RumiLife® CAL24™ em vacas Holstein durante as primeiras 24 horas após o parto. Para isso, foram monitorizados os níveis sanguíneos de cálcio de um grupo de 70 vacas durante as primeiras 24 horas após o parto.

 

Metodologia

O estudo foi realizado num grupo de 70 vacas da raça Holstein (35 no grupo de tratamento e 35 no grupo de controlo), durante um período de duas semanas e com os animais confinados no mesmo estábulo. Todas as vacas pertenciam à mesma Exploração, com 2000 vacas em produção, no estado do Iowa, Estados Unidos da América. Nessa Exploração, a ração das vacas secas incluía sais aniónicos e os valores de pH da urina das vacas secas eram monitorizados semanalmente de forma a garantir níveis ideais de pH durante o período seco. Neste estudo, as vacas foram alojadas no parque do pré-parto (sistema de cama livre) e foram levadas para a maternidade para terem o parto. Após o parto, as vacas foram transferidas para o parque do pós-parto onde eram suplementadas com a ração das vacas em lactação.
Neste estudo só foram incluídas vacas a partir da segunda lactação e que apresentaram ao parto valores sanguíneos de cálcio abaixo de 1,10 mmol/L. Vacas com mais de 1,10 mmol/L foram excluídas. As vacas admitidas neste estudo foram distribuídas alternadamente entre o grupo de controlo e o grupo de tratamento com RumiLife® CAL24™.

As vacas do grupo de controlo não receberam qualquer tipo de suplementação de cálcio no pós-parto e as vacas do grupo de tratamento receberam uma dose única (2 bólus) de RumiLife® CAL24™ imediatamente após o parto. A saúde e o bem-estar de todas as vacas foi assegurado e qualquer vaca que mostrasse sinais avançados de hipocalcemia clínica ou que apresentasse níveis de cálcio no sangue abaixo de 0,70 mmol/L foi excluída do estudo, recebendo terapia de suporte adequada. Os dados de qualquer vaca removida deste estudo foram também excluídos da análise estatística. A todas as vacas foram colhidas 5 amostras de sangue às 0, 2, 12, 18 e 24 horas após o parto de forma a se poder monitorizar os níveis sanguíneos de cálcio nas primeiras 24h após o parto.

 

Resultados

Não houve diferença significativa nos níveis de cálcio no sangue entre o grupo de tratamento e o grupo de controlo no momento do parto (T=0, p=0,3964). No entanto, com o passar do tempo, surgiram diferenças significativas entre estes dois grupos. O grupo de tratamento teve aumentos significativos nos níveis de cálcio no sangue às 12, 18 e 24 horas após o parto (Figura 1) quando comparado com o grupo de controlo. No grupo tratado com o RumiLife® CAL24™ os valores médios de cálcio no sangue durante o pós-parto foram: 1,11 mmol/L (P=0,0011) às 12 horas, 1,07 mmol/L (P=0,0096) às 18h e 1,03 mmol/L (P=0,0294) às 24 horas pós-parto.

Grupo-Tratamento-RumiLife-VS-Grupo-Controlo
Figura 1. Variação ao longo do tempo dos níveis de cálcio ionizado no sangue nos grupos de tratamento e de controlo.
O grupo de tratamento RumiLife® CAL24™ teve um aumento significativo às 12, 18 e 24 horas pós-parto, em comparação com o grupo de controlo.

 

Discussão

Como já foi referido, qualquer vaca que mostrasse sinais avançados de hipocalcemia clínica ou que apresentasse níveis de cálcio no sangue inferiores a 0,70 mmol/L iria ser tratada adequadamente e consequentemente removida deste estudo. No grupo de controlo, uma vaca foi removida por causa desse critério. Caso essa vaca não tivesse desenvolvido uma hipocalcemia clínica avançada e pudesse ser incluída neste estudo, os níveis de cálcio no sangue das vacas do grupo de controlo teriam sido ainda menores; o que iria contribuir para uma maior diferença estatística entre o grupo de tratamento e o grupo de controlo.

No grupo de tratamento, nenhuma vaca foi retirada devido a baixos níveis de cálcio no sangue ou a sinais de hipocalcemia clínica. Este dado demostra a importância da suplementação preventiva de cálcio no pós-parto e a eficácia dos bólus RumiLife® CAL24™.

dicionalmente, as vacas deste grupo apresentaram níveis de cálcio significativamente superiores às 12, 18 e 24 horas pós-parto quando comparados com os níveis de cálcio no sangue dos animais pertencentes ao grupo de controlo. Em média, as vacas do grupo de tratamento tiveram um aumento de 7,3% nos níveis de cálcio no sangue durante as 24h após o parto, quando comparadas com as vacas do grupo de controlo, o que se traduziu num ótimo nível médio de cálcio no sangue das vacas do grupo de tratamento, que neste caso foi de 1,06 mmol/L das 2 às 24 horas pós-parto. Neste estudo o RumiLife® CAL24™ manteve níveis ideais de cálcio no sangue por todo o período de 24 horas após o parto. Esses valores estão dentro dos níveis normais de cálcio no sangue e comprovam que a suplementação com uma dose única (2 bólus) de cálcio RumiLife® CAL24™ mantém os níveis de cálcio no sangue de vacas Holstein em valores ideais durante o período crítico das primeiras 24h pós-parto.

Conclusão

A administração pós-parto de bólus de cálcio RumiLife® CAL24™ a vacas Holstein aumentou os níveis de cálcio no sangue destes animais permitindo a estas vacas manter, dentro de valores normais, a concentração de cálcio sanguíneo durante as primeiras 24 horas após o parto. As vacas que não receberam bólus de cálcio RumiLife® CAL24™ apresentaram níveis de cálcio no sangue abaixo dos valores normais, estando assim, suscetíveis a um maior risco de desenvolverem hipocalcemia subclínica e clínica, o que por sua vez, resulta numa maior predisposição de terem quebras de produção de lei

Texto: Dr. Pedro Falcão, Lusogenes