O leite enquanto alimento
O leite é um alimento natural, simples, mas de características ímpares, que o tornam muito versátil e de fácil inclusão na alimentação diária. Por toda a sua riqueza nutricional e propriedades fisico-químicas, este alimento de excelência é fundamental ao longo de todo o ciclo de vida.
Dadas as suas particularidades, o leite integra todos os guias alimentares, tal como a Roda da Alimentação Mediterrânica, o guia alimentar português.
Neste guia, o leite enquadra-se no grupo dos Laticínios, onde se incluem ainda o queijo e iogurte. Recomenda-se a ingestão de 2 a 3 porções diárias destes alimentos, sendo 1 porção equivalente a 250 ml de leite ou a 200g de iogurte sólido.
Em Portugal, segundo o último Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016), verifica-se um consumo diário de cerca de 250 g/dia de produtos lácteos, representando o leite cerca de 170 g/dia. Além disto, poderá verificar-se um maior consumo no grupo das crianças e adolescentes. No entanto, o consumo de leite deverá ser promovido em todas as fases do ciclo de vida, por forma a garantir um bom desenvolvimento, crescimento e manutenção das funções vitais.
Fornecedor de uma quantidade apreciável de nutrientes essenciais ao organismo, será de destacar o seu teor em proteínas de alto valor biológico, contendo todos os aminoácidos essenciais (aqueles que apenas conseguimos obter através da alimentação), hidratos de carbono, maioritariamente lactose, que se assume como principal fonte de energia do organismo, auxiliando o desenvolvimento e crescimento, e gorduras, principalmente saturadas, devendo sempre que possível optar-se por versões magras.
No que concerne a vitaminas e minerais, destaca-se o teor significativo das vitaminas A e do complexo B, tais como a B2 e B12, e minerais como cálcio, potássio, zinco, fósforo e magnésio. Estes nutrientes estão envolvidos em inúmeras funções tais como crescimento, funcionamento dos sistemas imunitário e nervoso, formação óssea, obtenção de energia, produção de células sanguíneas e hormonas e transporte eficiente de nutrientes, entre muitos outros processos metabólicos inerentes ao funcionamento normal dos sistemas.
Salienta-se que a composição do leite e suas características organoléticas variam em função de determinados aspetos relacionados com o animal, como por exemplo a qualidade da sua alimentação e a frequência da ordenha. Exemplifique-se o teor em iodo, que é bastante dependente de fatores externos tais como a composição dos solos de pastagem e a alimentação dos animais.
O leite é um alimento a privilegiar em todas as faixas etárias e em estados fisiológicos mais exigentes.
Quer seja em fases precoces de desenvolvimento e formação neurológica, fases de crescimento abrupto, como a adolescência, ou períodos marcados por alterações intensas do metabolismo de nutrientes, como a gravidez e lactação, o consumo de leite e derivados deve ser garantido. É também relevante manter o consumo regular deste alimento por forma a evitar as perdas de massa óssea e consequentes quadros de osteoporose, muitas vezes decorrentes do período de menopausa, mas também para assegurar a manutenção de massa muscular, no caso de idades mais avançadas.
Hoje em dia, existem no mercado diversas variedades de leites, como é o caso dos leites enriquecidos e/ou dos reduzidos, sendo cada um destes formulado tendo em consideração diferentes objetivos – e muitas vezes direcionados a uma particular fase do crescimento – para que o consumidor consiga adquirir a versão que melhor se adequa às suas necessidades. A título de exemplo, os leites enriquecidos podem facilitar o alcance das necessidades de ingestão específicas de determinado nutriente (cito ómega-3, fibras, esteróis vegetais, ácido fólico, cálcio), principalmente em indivíduos que consumam quantidades reduzidas de laticínios. Conhece-se também a relação destes nutrientes com a prevenção de determinadas patologias, podendo os leites fortificados considerar-se um aliado nesse sentido.
A intolerância à lactose, que se traduz numa incapacidade de digestão deste açúcar presente no leite pela inexistência da enzima responsável por este processo, a lactase, pode ser contornada através do consumo de laticínios sem lactose. Existem cada vez mais opções que permitem que os indivíduos que padeçam desta condição possam obter os restantes nutrientes provenientes deste grupo de alimentos, sem obrigatoriedade de total exclusão da sua alimentação.
A aquisição de produtos deve ter por base uma escolha consciente e informada, conforme as necessidades individuais, realçando a necessidade de consulta dos rótulos alimentares, optando, idealmente, pelas versões com baixo teor de gordura e açúcar. A sustentabilidade deve também ser equacionada, privilegiando a compra de produtos nacionais e provenientes de práticas de produção mais amigas do ambiente.
O consumo de leite e derivados ajuda a diminuir as lacunas entre a ingestão de nutrientes e as recomendações e deverá integrar a alimentação diária, devendo sempre associar-se a uma alimentação completa, variada e equilibrada e a um estilo de vida saudável.