Laticínios para toda a vida

 

Os laticínios representam um grupo de alimentos onde se inclui o leite, os diversos tipos de queijos (curados e frescos), o requeijão, o leite fermentado e os iogurtes.

Este grupo de alimentos apresenta uma riqueza nutricional bastante interessante, o que o torna fundamental para ser incluído no dia-a-dia alimentar ao longo de todo o ciclo de vida.

Para além de fornecer uma boa quantidade de proteínas de elevado valor biológico, apresenta também uma elevada quantidade de vitaminas e minerais, como a vitamina A, a B2, a B12, o cálcio, o fósforo, o potássio ou o iodo. Fornecem ainda hidratos de carbono, sobretudo no formato de lactose, e gordura. Neste último caso, tendo em conta que uma parte da gordura proveniente dos laticínios é saturada, será importante preferir os laticínios com menor quantidade deste nutriente, visto ser um tipo de gordura que apresenta algumas desvantagens a nível da saúde, ou seja, sempre que possível devemos preferir as versões magras destes alimentos. Além disso, apresentam na sua constituição substâncias com propriedades fisiologicamente ativas, como o ácido butírico, as imunoglobulinas ou os péptidos ativos.

Se consultarmos os guias alimentares existentes em cada país veremos que é elemento comum a recomendação do consumo de laticínios. Poderá variar a quantidade ou frequência recomendada, mas estão sempre presentes. Os guias alimentares são conjuntos de orientações para uma alimentação mais saudável para a população de um país ou de uma região, construídos com base na especificidade da sua alimentação e na evidência científica existente. Normalmente, os guias alimentares apresentam imagens gráficas que auxiliam a sua interpretação, sendo elas na maioria das vezes rodas ou pirâmides. Vejamos o caso de Portugal, cujo guia alimentar oficial é a Roda dos Alimentos e onde está presente a recomendação de consumo diário de 2-3 porções de laticínios (Figura 1).

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Figura 1 – Roda dos Alimentos, Guia Alimentar Português

Fonte:FCNAUP, Instituto do Consumidor, 2006

Se analisarmos outros guias como o do Reino Unido, da Espanha, da Alemanha, da China, da Austrália, da África do Sul, do Canadá, dos Estados Unidos ou de muitos outros países, verificamos que a recomendação de consumo de laticínios está também incluída. Recentemente, a Universidade de Harvard propôs um modelo gráfico tendo por base recomendações alimentares com fundamento científico, onde recomendavam um consumo moderado de laticínios (Figura 2).

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Figura 2 – Proposta da Universidade de Harvard para uma representação gráfica de recomendações alimentares

Fonte: Harvard T.H. Chan School of Public Health The Nutrition Source: www.hsph.harvard.edu/nutritionsource

Harvard Medical School Harvard Health Publications: www.health.harvard.edu

Na altura da publicação desta informação houve alguma confusão na mensagem tendo sido entendido que recomendavam a eliminação dos laticínios da alimentação diária, mas tal não correspondia à realidade, pois apenas apelavam à moderação, facilmente percebida no contexto americano, em que o consumo de laticínios, sobretudo leite, é acima das necessidades da população.

Por outro lado, podemos ainda consultar as recomendações da Dieta Mediterrânea, um dos padrões alimentares mais saudáveis, baseado em evidência científica. Neste caso, é recomendado o consumo diário de laticínios, sobretudo queijo e iogurtes (Figura 3).

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Figura 3 – Pirâmide da Dieta Mediterrânea

Fonte: Fundación Dieta Mediterránea, 2010

Desta forma, a recomendação do consumo de laticínios tem uma base sólida, devendo o mesmo ocorrer em todas as fases da vida de forma a garantir um bom crescimento, desenvolvimento e manutenção do nosso organismo. Por serem alimentos de elevado valor nutricional, são reconhecidos como sendo essenciais numa alimentação saudável ao longo de toda a vida. Acresce, ainda, o facto de serem de fácil acesso, transporte e consumo.

No Quadro 1 apresentam-se as principais vantagens do consumo de laticínios nas várias fases do ciclo da vida.

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Quadro 1 – Resumo das principais vantagens do consumo de laticínios em cada fase do ciclo de vida

Será ainda importante reforçar a importância de se consultar os rótulos alimentares de forma a serem efetuadas as escolhas mais acertadas, ou seja, preferir as opções com menor gordura, com menos açúcar, no caso dos iogurtes, e de origem nacional. Em situações em que se verifique intolerância à lactose, podem ser selecionadas as opções de laticínios sem lactose já disponíveis no mercado, obtendo-se assim os restantes benefícios deste grupo de alimentos.

Não esquecer ainda que o consumo de laticínios deve acompanhar uma alimentação e estilo de vida equilibrados, saudáveis e completos, adequados às necessidades de cada indivíduo.

HELENA REAL, Nutricionista e Secretária-geral da Associação Portuguesa dos Nutricionistas