Forragens Biodiversas Ricas em Leguminosas (FBRL)

Contributo para a sustentabilidade económica, ambiental e melhoria paisagística das explorações de leite

As alterações climáticas representam uma ameaça para a Europa e para o resto do mundo. Estamos numa fase desafiante de profundas mudanças económicas, sociais e ambientais e a pandemia que vivemos veio acelerar ainda mais estas transformações.
Na agricultura estamos também numa transição rumo a uma nova PAC “mais verde” englobada no “Pacto Ecológico Europeu” que pretende fazer da Europa o primeiro continente a atingir a neutralidade carbónica em 2050. As linhas gerais deste plano visam impulsionar a utilização eficiente dos recursos através da transição para uma economia limpa e circular, restaurar a biodiversidade e reduzir a poluição.
A pecuária terá certamente de melhorar os modelos atuais de produção para que sejam mais sustentáveis aliando a rentabilidade a práticas de proteção dos solos, água e biodiversidade sem esquecer o respeito pelo bem-estar animal.
As explorações da bacia leiteira do Entre Douro e Minho (EDM) apresentam em geral um modelo de produção intensivo com os animais estabulados cumprindo com as normas do bem-estar animal e alcançando um nível de produção e profissionalismo assinalável. A superfície agrícola útil (SAU) é por vezes escassa e bastante fracionada o que dificulta a adoção de práticas usadas noutras regiões como por exemplo o pastoreio.
No entanto, existem modelos e práticas de produção que podem ser implementadas na região que seguramente ajudariam as explorações a melhorar a sua rentabilidade ao mesmo tempo que assumiriam importantes compromissos com a sociedade em termos ambientais, proteção do solo, água e biodiversidade. De salientar que todos os terrenos destas explorações juntos representam dezenas de milhares de hectares e que estão nas proximidades das zonas de maior densidade populacional.
A Fertiprado, ao longo dos 30 anos de história, tem um importante legado de trabalho de investigação e desenvolvimento de soluções de pastagens e forragens que aliam a eficiência económica das explorações com as melhores práticas ambientais.
Com o intuito de divulgar as melhores soluções para setor nas condições reais das explorações, a FERTIPRADO em colaboração com a UCANORTE XXI, instalou em outubro de 2020 em Beiriz, Póvoa de Varzim, um campo demonstrativo com 8 diferentes consociações anuais ricas em leguminosas. Um dos objetivos do campo demonstrativo passou pela recolha de dados de produção e qualidade em diferentes fases, assim como o registo dos ciclos e performances de cada variedade em ensaio nas condições edafo-climáticas do EDM.
O outro grande objetivo também executado passou pela divulgação e transferência de conhecimento sobre técnicas de instalação, maneio e colheita.
Tivemos o prazer de aí receber a visita, em pequenos grupos, de agricultores, técnicos, comerciais nutricionistas entre muitas outras pessoas interessadas nesta temática.
Nestas visitas de campo apresentamos as inúmeras vantagens que a utilização deste tipo de forragens anuais biodiversas ricas em leguminosas (FBRL) podem trazer. Com impactos positivos em diferentes perspetivas: exploração, solo, paisagem, ambiente e sociedade no geral.
Aproveitamos para reforçar os principais impactos da utilização deste tipo forragem durante o Outono-inverno na rotação com o milho, nomeadamente:

 

Rentabilidade das Explorações
A utilização de leguminosas anuais (trevos anuais, ervilhaca, etc.) inoculadas com rizóbio em consociações com gramíneas (azevém, aveia etc.) permite aumentar a proteína e reduzir a fibra das silagens de erva. Melhoram a digestibilidade da forragem e permitem uma acentuada redução de custos com a aquisição de adubos azotados e alimentos concentrados nomeadamente na fonte proteica.

 

Ambiente
A utilização de FBRL pode ser um contributo importante para o setor cumprir com as metas da neutralidade carbónica. As FBRL através da fixação de azoto atmosférico das leguminosas em simbiose com o rizóbio, permitem a redução do uso de adubos azotados de síntese. A produção de adubos azotados de síntese implica queimar combustível fóssil e por sua vez importantes emissões de CO2 para atmosfera. Por outro lado, as FBRL permitem ao produtor aumentar o teor de proteína nas silagens de erva produzida na própria exploração, reduzindo a compra de soja e o CO2 associado à sua produção e ao seu transporte, normalmente de longas distâncias.

 

Proteção do solo
A rotação dominante atualmente de gramínea C4 (Milho) com gramínea C3 (azevém) não é seguramente a melhor rotação sobre o ponto de vista da conservação e melhoramento do solo pensando no legado para as gerações futuras. Importante que as rotações sejam feitas com plantas de diferentes famílias e que sejam também melhoradoras do solo. As leguminosas consociadas na cultura intercalar com o milho podem cumprir esse papel, fixando azoto atmosférico em simbiose com rizóbio ao mesmo tempo que produzem forragem de excelente qualidade.

 

Proteção dos insetos polinizadores
As abelhas e restantes polinizadores estão atualmente sobre forte ameaça de desaparecimento. Na UE 78% das flores selvagens e 84% dos campos de produção agrícola dependem pelo menos parcialmente destes insetos para produção de semente e/ou fruto. As leguminosas anuais utilizadas são algumas delas plantas melíferas, com flores muito atrativas para estes polinizadores. A utilização de FBRL nas dezenas de milhares de hectares cultivados pelos produtores de leite poderia representar um importante passo para o compromisso de sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

 

Paisagem
O setor do leite no EDM convive a paredes meias com o maior núcleo populacional do país, os campos cultivados pelos produtores de leite são em muitas zonas os “jardins” ao longo dos quais são feitas a caminhadas e passeios em família de toda a comunidade. Apresentar uma paisagem mais biodiversa e florida na primavera teria sem dúvida o seu impacto e sobre o qual o produtor deveria também ser premiado.
Resumindo, acreditamos na mudança e que é possível continuar a produzir leite de excelente qualidade associado a praticas ambientalmente sustentáveis.
Consideramos inclusive que as externalidades ambientais positivas que advém da utilização de FBRL poderiam ser apresentadas pelo setor como uma verdadeira produção de bens públicos – serviços ecológicos -, justificando, portanto, a sua devida remuneração, através de pagamentos agroambientais ou outro eco-esquema ao abrigo da PAC.

TEXTO: Joel Presa (Engenheiro Agrícola) – FERTIPRADO