Agricultores escolhidos como grupo de maior confiança no setor alimentar pelos consumidores europeus

Estudo com 20.000 consumidores de 18 países europeus revela que a confiança no setor alimentar aumentou ao longo de 2020, mas a maioria dos consumidores não considera que este sistema trabalhe para o interesse público.

Em junho de 2020, o maior estudo da EIT Food, o TrustTracker®, foi conduzido com 19.800 consumidores de 18 países europeus, com o objetivo de medir a confiança no sistema alimentar e nos produtos alimentícios, e investigar o que mudou desde que o TrustTracker® começou em 2018 com uma pesquisa de apenas cinco países.

A EIT Food é a iniciativa de inovação alimentar líder na Europa, com o objetivo de criar um setor alimentar sustentável e preparado para o futuro.
O estudo revela que, para os consumidores europeus, todas as entidades integrantes da cadeira alimentar são mais confiáveis do que o oposto, mas existe uma variação considerável entre eles. De forma consistente, os agricultores são os mais confiáveis – no geral, 67% dos consumidores europeus questionados em 2020 disseram que confiam neles, em comparação com apenas 13% expressando falta de confiança. Os retalhistas seguem – no geral 53% confiam neles contra 20% que não confiam. Em seguida, as autoridades (desempenhando um papel regulador no sistema alimentar), nas quais as pessoas confiam um pouco mais do que os fabricantes alimentares – 47% contra 46% no geral.

A boa notícia é que quando olhamos para a amostra consistente de 5 países (França, Alemanha, Polónia, Espanha, Reino Unido) analisada entre 2018 e 2020, vemos melhorias claras nos níveis de confiança para cada parte do sistema alimentar durante este período – aumentos de 3-8%.

Este facto também se aplica quando analisados os critérios de confiança fundamentais em torno de competência, cuidado e abertura.

No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer – com mudanças mais positivas necessárias em toda a linha e escopo específico no que concerne a melhorias na abertura e nos comportamentos de cuidado. Por exemplo, menos da metade das pessoas questionadas em 2020 acreditam que retalhistas, fabricantes ou autoridades: são honestos sobre o seu papel no sistema alimentar; compartilham todas as informações relevantes; ouvem as preocupações das pessoas comuns; ou agem no interesse público. Os agricultores têm um desempenho um pouco melhor, mas ainda não pontuam mais do que 56% nestes tópicos.

 

Integridade alimentar

O estudo TrustTracker® também explora a confiança do consumidor na integridade do produto alimentar – medida por uma combinação de cinco fatores: sabor, segurança, saudabilidade, autenticidade e sustentabilidade – e mais uma vez, vemos diferenças significativas entre os 18 países pesquisados em 2020. No geral, 62% dos entrevistados disseram que os produtos alimentícios são geralmente saborosos (vs. 16% não) e 55% que geralmente são seguros (vs. 22% não). Apenas 43% pensam que são geralmente saudáveis (vs 30% não) e 40% pensam que são geralmente autênticos (vs 34% não), enquanto apenas um terço dos inquiridos pensa que os produtos alimentares são geralmente sustentáveis (vs 42% não). Em geral, os homens e os jovens mostram mais confiança nos indicadores de integridade alimentar e, em termos de integridade geral dos produtos alimentares, o Reino Unido tem a pontuação mais alta e a República Checa a menor. Mais uma vez, todos esses indicadores mostram melhorias desde 2018 na amostra inicial de 5 países – conforme aumenta a confiança no sistema alimentar, aumenta também a confiança na integridade dos produtos alimentícios – mas ainda há muito a ser feito para aumentar este indicador, especialmente em alguns países.

 

Alimentação saudável e sustentável

Quando se trata de fazerem escolhas alimentares saudáveis e sustentáveis, o quadro é encorajador, mas mudou pouco desde 2018. No geral, 71% dos consumidores questionados em 2020 disseram que, dada a oportunidade, escolhem a opção mais saudável, enquanto 63% fazem um esforço para comprar alimentos saudáveis e 47% mudaram para opções mais saudáveis. Um pouco menos (45%) disseram que mudaram para opções mais sustentáveis, enquanto 52% se esforçam para comprar produtos sustentáveis e 60% escolhem a opção sustentável dada à sua escolha. No entanto, 76% sentem uma obrigação moral de usar produtos ecológicos, então ainda se verifica uma lacuna entre as intenções e a ação – possivelmente em parte devido ao facto de as opções alimentares sustentáveis serem menos óbvias e/ ou disponíveis do que as opções saudáveis.

GRÁFICO 1. Grupo mais confiável
Inovação alimentar

Outro obstáculo pode ser a ambivalência dos consumidores em relação a comprar e experimentar alimentos novos e diferentes. No geral, 66% dos europeus entrevistados disseram que são muito exigentes quanto ao tipo de alimentos que comem, enquanto 42% tem medo de experimentar novos alimentos (aumentando para mais da metade em Itália). Por outro lado, 46% disseram que procuram frequentemente novos produtos e marcas, 60% disseram que estão constantemente a experimentar alimentos diferentes e 61% disseram que comem quase tudo (aumentando para 79% em França).

Nenhum desses comportamentos demonstra grande mudança desde 2018. No entanto, quando exploramos as atitudes em relação à inovação alimentar com membros do estudo qualitativo, numa série de focus group em 12 países europeus entre 2019-2020, muitas pessoas consideram esse fator como uma oportunidade para os fabricantes e indivíduos, e foram particularmente positivos sobre os desenvolvimentos relacionados com a saúde e favoráveis ao planeta. Este relatório inclui algumas das suas ideias específicas sobre como o sistema alimentar pode potenciar o envolvimento e confiança dos consumidores, e permitir que façam escolhas mais saudáveis e sustentáveis no futuro.

 

Confiança no sistema alimentar

Quando os entrevistados são questionados sobre a confiança que têm no sistema alimentar, é possível verificar diferenças claras nos níveis gerais de confiança para as diferentes partes do setor e também variações por país – mas a confiança supera significativamente a falta de confiança em todos os casos.

Os agricultores são em quem os consumidores europeus mais confiam de forma genérica – 67% dos entrevistados em 2020 indicam confiança, em comparação com apenas 13% que não confiam. Os retalhistas são os seguintes em quem mais confiam – no geral, 53% o fazem contra 20% que carecem de confiança. Menos da metade das pessoas entrevistadas em todos os países expressam confiança nos fabricantes e autoridades alimentares. As autoridades têm a confiança de um pouco mais de público do que os fabricantes alimentares – 47% vs 46% no geral – mas um número maior também não confia nelas – 29% para as autoridades vs 26% para os fabricantes.

GRÁFICO 2. Dentro do sistema alimentar, quanta confiança tem em…
Mudanças 2018-2020

Quando se olha para a amostra consistente de 5 países, estudada ao longo de três anos, é possível verificar que este padrão misto de confiança para diferentes partes do setor tem sido estável, mas também se observam melhorias claras nos níveis de confiança desde 2018 (aumentos globais entre 3% e 8% naqueles que expressam confiança, enquanto os níveis de confiança geral nos outros permanecem inalterados durante este período).

Em geral, houve um salto significativo na confiança no sistema alimentar entre 2019-2020, que pode estar associado à pandemia de COVID-19 e à gratidão sentida por alguns ao setor por manter o abastecimento de alimentos e a sua acessibilidade.

Os agricultores demonstram menos melhorias nos níveis gerais de confiança desde 2018 (possivelmente porque começaram com uma linha de base mais alta do que os restantes grupos). A confiança nos agricultores aumentou 3% e a falta de confiança caiu 2%, enquanto os retalhistas obtiveram o maior aumento na confiança geral, com um aumento de 7% desde 2018 (e uma queda de 4% na falta de confiança). As autoridades mostram a mudança mais geral – com um aumento de 6% na confiança e uma queda de 6% na falta de confiança – e os fabricantes demostram uma mudança semelhante, com mais 5% de confiança e uma queda igual naqueles que não confiam neles.

Quando os consumidores são questionados sobre comportamentos específicos do sistema alimentar associados aos determinantes-chave da confiança – competência, cuidado e abertura – vemos uma variação considerável na forma como classificam esses critérios por agente e por país, com margem para melhorias em todos os setores.

Ano após ano, os consumidores pontuam de forma mais elevada o setor no que toca aos critérios de competência, por exemplo: 64% dos entrevistados em 2020 acham que os agricultores têm as habilidades necessárias (vs 16% não); 53% pensam que os fabricantes também (vs 22% não); 51% consideram o mesmo dos retalhistas (vs 24% não); e 47% acham também que as autoridades possuem as habilidades necessárias (vs 29% não).

Enquanto isso, 69% dos entrevistados dizem que os agricultores estão a fazer um bom trabalho (12% discordam), em comparação com 53% para os retalhistas (21% discordam), 48% para os fabricantes (25% discordam) e 41% para as autoridades (34% discordam).

Quando se trata de critérios de cuidado, menos da metade dos europeus questionados acredita que as autoridades (44%), retalhistas (41%) ou fabricantes alimentares (38%) agem no interesse público, e cerca de um terço acha que não em cada um dos casos (o restante está indeciso). Mesmo para os agricultores, apenas 56% acreditam que estes agem no interesse público (contra 21% que não), embora esse valor aumente para 72% no Reino Unido. Ouvir as preocupações do público pontua ainda mais baixo na maioria dos casos (os retalhistas superam a tendência com 44% a considerar que sim) – novamente os agricultores têm um desempenho melhor, 52% no geral, os fabricantes e as autoridades chegam a 38% (e quase o mesmo número diz que não ouvem as preocupações do público). Na República Checa, 60% dos entrevistados acham que as autoridades não dão ouvidos às preocupações do público.

Os critérios de abertura mostram ter o maior espaço para melhorias em geral. Quando questionados sobre o sistema alimentar que compartilha todas as informações relevantes, exatamente metade dos entrevistados pensa que os agricultores o fazem, em comparação com 41% para os retalhistas, 39% para as autoridades e apenas 35% para os fabricantes alimentares. Vemos respostas semelhantes sobre se são honestos no que toca ao seu papel no sistema alimentar: 55% dos europeus inquiridos pensam que os agricultores o são (vs 22% não); 39% afirmam que os retalhistas também (contra 33% que não), 38% afirmam que as autoridades sim (mas o mesmo número discorda); e apenas 34% pensam que os fabricantes são honestos (contra 40% que pensam que não – subindo para 53% na Bélgica).

GRÁFICO 3. Para cada parte do setor alimentar, concorda que estes…

Refletindo o aumento da confiança geral no sistema alimentar desde 2018, também vemos melhorias encorajadoras em todas essas pontuações de critérios de confiança ao longo dos três anos, quando se olha para a amostra consistente de 5 países.

  • Os agricultores demostram um aumento de 3 a 6% na confiança para os critérios de competência, e um aumento geral de 7% na confiança em todos os critérios de cuidado e abertura (com menores diminuições na falta de confiança).
  • Os retalhistas mostram a melhoria geral na confiança mais significativa, com aumentos de 6-8% em todos os critérios de confiança e diminuições de 4-6% na falta de confiança.
  • Sobre os fabricantes verificam-se aumentos significativos de 5 a 8% em todos os determinantes da confiança, com diminuições semelhantes na falta de confiança.
  • Enquanto isso, as autoridades têm os níveis de confiança com menos melhorias, mas ainda mostram aumentos de 3-5% nos critérios de competência, cuidado e abertura desde 2018 e diminuições correspondentes na falta de confiança.
TEXTO: Adaptado por AGROS | FONTE: The EIT Food Trust Report
NOTA: O presente artigo figura um resumo do documento “The EIT Food Trust Report”, elaborado de acordo com os tópicos pertinentes para o público-alvo da Revista AGROS “Força da União”.