A biossegurança nas explorações leiteiras.
A sua importância no COVID-19 e o que podemos aprender para o futuro!
Estamos a atravessar uma fase que muitos comparam a uma guerra mundial, outros consideram apenas uma “gripe mais forte” que requer mais cuidados para evitar a sua transmissão e há ainda quem desvalorize a situação pois acredita não ter consequências para si e que apenas afeta os outros. No entanto, é inequívoco que o aparecimento do COVID-19 veio provar que, por todo o mundo, estávamos muito pouco preparados para enfrentar uma Pandemia. De repente, as nossas vidas viraram-se do avesso, é posto à prova o nosso altruísmo, resiliência e capacidade de alterar hábitos intrínsecos que possam agora constituir um risco.
O que podemos então aprender com o COVID-19?
Com o surgimento desta Pandemia, o uso de luvas e máscara, bem como a lavagem e desinfeção das mãos são práticas que se têm tornado rotina. Fala-se agora na criação de uma zona limpa e zona suja nas nossas casas, para que se minimizem os riscos de contaminação. O rastreamento de casos torna-se uma ferramenta indispensável para que possamos detetar cadeias de transmissão e assim estabelecer os focos de doença. Basicamente fala-se a toda a hora de Biossegurança e este termo é bastante aplicável ao dia-a-dia de uma exploração leiteira.
O termo Biossegurança refere-se a um conjunto de práticas de maneio aplicadas com o objetivo de prevenir e controlar a entrada de agentes patogénicos na exploração, bem como evitar a sua disseminação, dentro e fora da mesma. Este não é um tema novo no setor e será sem dúvida um tema central para a produção de leite futura, com a entrada em vigor da Lei da Saúde Animal (Regulamento (UE) n.º 2016/429) prevista para abril de 2021. No entanto, apesar de ser um termo bastante conhecido, nem sempre aplicamos a rigor as medidas necessárias e o COVID-19 vem relembrar-nos que a adoção de um programa de Biossegurança nas explorações é fundamental e urgente.
Numa exploração de leite existem várias vias de entrada e formas de transmissão de agentes patogénicos. A Figura 1 ilustra possíveis vias de entrada destes agentes numa vacaria.
FIGURA 1. Riscos de biossegurança numa exploração de leite.
Estes programas de Biossegurança devem ter uma componente externa (primeiro passo na prevenção de doenças, impedindo a entrada do agente patogénico) e interna (prevenção da propagação dentro da exploração). No caso da biossegurança externa, devemos ter em conta a localização da exploração, a entrada e saída de animais, veículos, funcionários e visitantes. Já no caso da interna pode ser necessária uma reestruturação da vacaria (por exemplo através da criação de uma zona diferenciada para os animais que entram na exploração (quarentena) ou mesmo uma zona separada para os animais doentes e tentar evitar o contato entre lotes.
Importa definir o nível de risco a que a exploração está sujeita, para que depois se desenvolvam boas práticas que permitam minimizá-los. Convém ter em conta três princípios básicos:
- Separação de áreas consideradas limpas e sujas;
- Limpeza das instalações e utensílios/equipamentos;
- Desinfeção (neste ponto é importante considerar o princípio ativo do desinfetante, o tempo de contacto e sua concentração).
Um bom plano de biossegurança deve incluir os pontos representados na Figura 2.
FIGURA 2. Principais medidas de um plano de biossegurança.
Neste contexto, as principais medidas de biossegurança que podem ser estabelecidas numa exploração de leite são as representadas na Tabela 1, organizadas em três grupos, segundo a facilidade de implementação na exploração.
TABELA 1. Principais medidas de biossegurança.
As medidas de biossegurança de uma exploração devem abranger medidas de proteção da entrada e propagação de agentes que afetam os animais, mas também proteger os produtores e colaboradores da exploração de Zoonoses ou outras doenças infeciosas como é atualmente o caso do COVID 19.
Por exemplo numa situação como a que atualmente vivemos, tendo em conta que o teletrabalho não é viável para o setor da produção de leite, temos que minimizar os riscos a que a exploração e os seus colaboradores estão expostos.
Neste seguimento, algum material de apoio foi recentemente enviado para os nossos Produtores, que deve ser colocado num local visível, para que visitantes e colaboradores estejam devidamente informados e se lembrem frequentemente dos cuidados que deverão ter na sua exploração (Figura 3).
Sempre que a exploração tenha visitas, estas devem ser registadas num livro presente na exploração (podem utilizar as folhas que foram enviadas para fazerem esse registo – Figura 3). Tal procedimento permite o rastreamento e identificação de possíveis vias de infeção/disseminação.
FIGURA 3. Material de apoio fornecido aos produtores.
É extremamente importante que o Produtor restrinja o acesso a visitantes, permitindo apenas a entrada a quem é essencial para o normal funcionamento da atividade da exploração, e garantindo que cumprem as regras de prevenção anunciadas pela Direção Geral de Saúde.
Para tal, o Produtor deve criar um local onde possa ser efetuada a desinfeção das galochas com uma solução desinfetante (Figura 4), para que todas as pessoas que entram na exploração, internos e externos, possam fazê-lo à entrada e saída da mesma. Também as ferramentas e utensílios usados na exploração, assim como pontos que contactam frequentemente com as mãos como os puxadores e maçanetas, devem ser desinfetados frequentemente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha o uso de lixívia (solução de hipoclorito de sódio) numa concentração de pelo menos 5% de cloro livre, e álcool a 70º para superfícies.