Qualidade do Leite na Produção em Portugal Continental

 

O Laboratório Interprofissional utiliza a tecnologia mais moderna existente em matéria de análise do leite, não descurando os meios informáticos e automáticos indispensáveis para que todo o processo funcione eficazmente. É acreditado desde 2011, de acordo com a NP EN ISO/IEC 17025 (Anexo técnico nº L0512). Conta com uma equipa de 20 pessoas altamente qualificadas, ao serviço da interprofissão leiteira e que foi formada para responder às necessidades e exigências de toda a fileira do leite.

 

Atividade do Laboratório da ALIP

O laboratório analisa atualmente cerca de 5.000 amostras diárias de leite cru, em que cerca de 3.000 a 3.500 são amostras de contraste leiteiro e cerca de 1.000 a 1.500 são amostras de classificação. A análise de alimentos animais, mais recente na atividade da ALIP, representa também uma das áreas principais no laboratório e tem-se verificado uma procura crescente pelos serviços, neste departamento. As análises de águas para consumo, conforme DL306/2007, alterado pelo 152/2017, são também realizadas no laboratório da ALIP, por métodos acreditados. O intuito da oferta deste serviço foi sempre o de preencher as necessidades do setor, pois é obrigatório o controlo da água de consumo nas vacarias, não sendo da rede pública.

 

Legislação na Qualidade do Leite

A legislação comunitária exerce grande pressão sobre o Produtor de leite para que se obtenha matéria-prima de qualidade, sem colocar em causa a saúde pública e a segurança alimentar. A regulamentação comunitária em matéria de higiene alimentar, consagra a responsabilidade dos distintos agentes da cadeia alimentar na produção de alimentos seguros, estabelecer o controlo oficial que se deve realizar em cada etapa da produção e transformação e a supervisão do dito controlo pelas autoridades competentes. No âmbito da produção leiteira, refira-se os Regulamentos CE nº 852/2004, relativo à higiene dos géneros alimentícios, e o Regulamento CE nº 853/2004, que estabelece regras específicas de higiene aplicáveis aos géneros alimentícios de origem animal, ambos de 29 de abril e suas alterações.

 

Os operadores das empresas que produzam leite ou que procedam à recolha devem assegurar que o leite cru obedeça aos seguintes critérios:

a) Leite cru de vaca:
Contagem em placas a 30º C (por ml) ≤ 100.000 *
Contagem de células somáticas (por ml) ≤ 400.000 **

* Média Geométrica constatada ao longo de um período de dois meses, com, pelo menos, duas colheitas mensais.
** Média Geométrica constatada ao longo de um período de três meses, com pelo menos, uma colheita mensal, a não ser que a autoridade competente especifique outra metodologia para atender às variações sazonais nos níveis de produção.

 

b) Leite cru de outras espécies:
Contagem em placas a 30º C (por ml) ≤ 1.500.000 *

Todavia, se se pretender utilizar este tipo de leite cru no fabrico de produtos por um processo que não inclua nenhum tratamento térmico, os operadores das empresas do setor alimentar devem tomar as medidas necessárias para assegurar que o leite cru utilizado obedeça ao seguinte critério:
Contagem em placas a 30º C (por ml) ≤ 500.000 *

*Média geométrica constatada ao longo de um período de dois meses, com, pelo menos, duas colheitas mensais.

Relativamente à presença de inibidores no leite, os operadores das empresas devem adoptar procedimentos destinados a garantir que não é colocado leite cru no mercado:
– Cujo teor de resíduos de antibióticos ultrapasse os níveis autorizados para qualquer uma das substâncias referidas nos anexos I e II do Regulamento (CE) nº 2377/90, ou, que o total de resíduos de todas as substâncias antibióticas ultrapasse qualquer valor máximo permitido.
Quando o leite cru não estiver conforme o disposto, os operadores das empresas têm que comunicar às Direções de Serviço de Veterinária.

 

Qualidade média do Leite Cru na área de influência da ALIP

Com base no total das amostras analisadas na ALIP, representando cerca de 95% do volume de leite de vaca produzido no Continente, os indicadores de qualidade continuam a apontar para níveis muito elevados de cumprimento relativamente a parâmetros de saúde e higiene.
Como se pode observar na tabela abaixo (tabela 1) não existem diferenças significativas para os diferentes parâmetros analisados no período de 2008 a 2018, principalmente no que diz respeito à composição do leite.

A Gordura variou entre 3,8 a 4,0 %(m/m), enquanto a Proteína, entre 3,2 e 3,3 %(m/m), nos vários anos. Relativamente à % de água, com base no total de amostras analisadas até 2014, 3 a 9%, apresentam água (IC<520ºmC), e nos últimos anos (2015-2018), a % de amostras com água aumentou significativamente, assim como o IC, em valor absoluto. Face às fortes penalizações, a quantidade de amostras positivas a resíduos antimicrobianos tem-se mantido significativamente baixa, com uma média de 0,2% de amostras positivas, isto é, 2 em 1000 amostras analisadas.  Em relação à qualidade higiénica das amostras, na contagem de microrganismos o valor médio tem vindo a diminuir, sendo de 36.000 ufc/ml no último ano, verificando-se que 97% das amostras estão abaixo do limite legislado (100.000 ufc/ml). De realçar, que nos últimos dois anos 90% das amostras estão abaixo de 50.000 ufc/ml.

Na contagem de células somáticas, o valor médio tem também vindo a diminuir significativamente, sendo de 250.000 células/ml no último ano, verificando-se que 91% das amostras estão abaixo do limite legislado (400.000 células/ml). Podemos acrescentar que nos últimos dois anos, cerca de 60% das amostras estão abaixo de 250.000 células/ml.

Apesar de se verificar uma tendência na diminuição do número de amostras resultante da cessação de atividade de algumas explorações leiteiras, cenário que se tem verificado também a nível europeu, fruto da reestruturação e consolidação das estruturas primárias de produção, são objetivos do laboratório continuar a investir na modernização e adequação dos mais sofisticados métodos de análises. O setor leiteiro tem que continuar a ser um exemplo na cadeia alimentar, visto como aquele que mais tem progredido na garantia da qualidade, higiene e segurança dos alimentos de origem láctea. Os indicadores da qualidade do leite produzido no continente, demonstram que este é o caminho certo.

TEXTO: DRA. LÚCIA MEDEIROS, DIRETORA-GERAL DA ALIP – ASSOCIAÇÃO INTERPROFISSIONAL DO LEITE E LACTICÍNIOS.